REDAÇÃO CENTRAL, 25 de fev de 2013 às 15:00
Com a autorização dos Bispos da Alemanha para administrar a pílula do dia seguinte em casos de estupro, gerou-se uma situação insalvável que não permite traçar uma linha divisória clara e que põe à Igreja nesse país europeu de volta nos anos 90’s quando assumiu posturas controversas respeito ao aborto, explica uma perita pró-vida alemã.
Os bispos da Alemanha acordaram permitir que a "pílula do dia seguinte" possa administrar-se nos hospitais católicos em casos de estupro, "partindo da base de que seus princípios sejam não abortivos, mas sim anticoncepcionais".
"Continuará proibido utilizar métodos médicos ou farmacêuticos que causem a morte do embrião", acrescenta a declaração publicada no site da Conferência Episcopal da Alemanha em 22 de fevereiro.
Em declarações ao grupo ACI em 23 de fevereiro, a alemã Sophia Kuby, Diretora do European Dignity Watch com sede em Bruxelas (Bélgica), explicou que "a decisão da Conferência Episcopal Alemã de permitir a administração da pílula do dia seguinte em hospitais católicos em casos de abuso tem que ser lida de forma diferenciada".
"Do ponto de vista teológico, os Bispos alemães não mudaram sua opinião ao dizer que, em caso de abuso, pode-se dar uma pílula do dia seguinte, se e somente se, impede a gravidez. Isso deve ler-se à luz do que a doutrina católica ensina sobre o início da gravidez, quer dizer com a fertilização do óvulo".
Kuby recordou logo que "de acordo à lei alemã a gravidez começa com a nidação. Isto significa que uma pílula do dia seguinte que tenha um efeito abortivo continua estando proibida. E aqui está o problema: os Bispos alemães se referem a uma ‘evidência científica’ como base para sua recente avaliação moral e teológica da pílula do dia seguinte, porém, o principal estudo que parece servir-lhes de base descreve somente o efeito anticoncepcional da pílula em questão".
Entretanto, refere a perita alemã ao grupo ACI, "a maciça evidência de renomados peritos no mundo mostra que não existe pílula do dia seguinte que não tenha um efeito abortivo. Então, a ‘evidência científica’ a que os Bispos alemães se referem não está errada, mas incompleta. Esta evidência científica incompleta, entretanto, é equivalente a uma hipótese equivocada, porque o efeito que não foi coberto pelo estudo é o problema crucial".
"Uma pílula do dia seguinte sem um potencial efeito abortivo não existe no mercado global. Então, a declaração dos Bispos alemães é, de fato, muito problemática e dá sua aprovação moral a algo que simplesmente não existe. A consequência é uma situação insalvável".
Kuby questiona: "Quem pode dizer com clareza que a fertilização ocorreu ou não? Que hospital católico, daqui em diante, rechaçará administrar a pílula do dia seguinte a uma vítima de estupro se a fertilização pôde haver-se dado faz algumas horas? Estas horas fariam alguma diferença para a mulher traumatizada?"
Depois de recordar que em sua declaração, os bispos afirmam que "em qualquer caso, a decisão da mulher envolvida deve ser respeitada", Kuby alerta que "esta é exatamente a mesma linguagem que regula o conselho obrigatório antes de um aborto na Alemanha".
Para a diretora do European Dignity Watch "a situação é preocupantemente similar ao dilema da participação da Igreja Católica no conselho ante o aborto na Alemanha nos anos 90, que concluiu eventualmente no ano 2000 logo depois de várias enérgicas e extraordinárias exortações do Papa João Paulo II e da Cúria romana".
Com a declaração publicada na sexta-feira, prossegue Sophia Kuby, "os bispos alemães criaram uma situação que fará impossível –médica e teologicamente– traçar uma linha clara. A Igreja Católica na Alemanha estava a ponto de sair da paralisação moral no assunto da defesa da vida, que foi consequência da ‘cooperatio ad malum’ (colaboração no mal como disse João Paulo II) no conselho sobre o aborto".
Kuby conclui assinalando que "com a decisão da pílula do dia seguinte, embora não haja problema teológico (com a declaração) quando é lida isoladamente do atual contexto cultural e científico, a Igreja na Alemanha está de volta nos 90’s".